O impacto econômico nos setores imobiliário e de construção

Gabriela Souza / 22 de dezembro de 2020

Resumo do texto:

  • O impacto negativo da pandemia no setor imobiliário e de construção – com projeções que indicam -4% no PIB;
  • Mesmo com números negativos, há boas perspectivas para o mercado de financiamentos no Brasil com a redução da taxa de juros;
  • O governo precisa repensar o uso do FGTS para que ele tenha um bom destino e possa ajudar o crescimento da economia. 

O mercado da construção civil sentiu o impacto negativo causado pela pandemia do novo coronavírus, mas, diferente de outros cenários econômicos, tem se mostrado perseverante. O crescimento sustentável desse campo só é alcançado com estímulos à produtividade setorial e decisões pensadas em longo prazo, pois levam mais tempo para surtirem efeito.  

Mas qual será o cenário econômico e as perspectivas para o mercado imobiliário e da construção civil? Esse foi o tema que conduziu o bate papo em um webinar promovido pelo enredes no YouTube. Dentre os convidados, Ana Castelo – Economista e Coordenadora de Projetos no IBRE FGV, Mauro Dottori – Presidente do Conselho da MPD, Leda Maria Pereira Vasconcelos – Economista e Assessora Econômica do Sinduscon – MG e Basílio Jafet – Presidente do Secovi – SP. O debate foi mediado pelo CEO do CTE enredes, Roberto de Souza. 

O pico de evolução do PIB da construção civil no Brasil ocorreu entre os anos de 2007 e 2013, com um crescimento de 33%. O ciclo de queda começou a ser percebido novamente em 2018 e iniciou-se uma nova perspectiva a partir daí. Segundo a economista Ana Castelo, apesar de um cenário promissor, viveremos quedas. “Com os indicadores que temos até agora, podemos fazer uma nova projeção em -4% no PIB da construção em 2020”, explica. A convidada diz que para esse ano pensava-se em elevação e não um declínio no índice do produto interno bruto, mas, “depois da Covid, voltamos ao patamar igual ao de tempos de declínio na situação da construção”, diz.  

Mas há boas perspectivas para o setor. A redução de juros e a aprovação do marco regulatório do saneamento podem impulsionar a atividade e estabelecer um novo ciclo de crescimento. De acordo com a convidada Leda Maria, estamos há seis semanas consecutivas (03/07/2020 a 07/08/2020) com projeções menos pessimistas para o PIB do país, mas ainda com índices negativos. “Poderemos ter a maior recessão dos últimos 120 anos”, alerta a participante do webinar. Conforme uma projeção do FMI, a economia brasileira deve ter o pior índice desde 1901. 

A situação do mercado imobiliário nacional

O brasileiro apresenta uma característica que se mostrou mais latente durante o período da quarentena: ele gosta de morar naquilo que é dele e tem buscado investir na área. Para Basílio Jafet, o mercado imobiliário reflete com clareza como anda a economia. “Fatores negativos desestimularam e causaram um enfraquecimento do mercado, mas ele continua vivo. Atualmente se contratarmos um financiamento imobiliário a prestação será 30% menor do que há dois anos”, esclarece. Para o empresário, a grande luta é que os bancos diminuam os juros.  

No primeiro semestre de 2019, Basílio alega que lançaram 20 mil unidades e venderam 19.600. Na reabertura após a quarentena já atingiram 85% desse mesmo volume de vendas. “Para o mercado da construção civil em julho de 2020 superamos em 120% as expectativas iniciais”, apresenta. Mesmo com bons índices, o diretor do maior sindicato de mercado imobiliário da América Latina mostra uma inquietação. “As contas públicas nos preocupam muito. Até que ponto a evolução da dívida indica algo sustentável e até que ponto o governo está ciente disso?”, questiona.  

O Presidente do Conselho da MPD, Mauro Dottori, entende que o setor imobiliário possui ciclos longos e temos que saber captar o que vai acontecer daqui alguns anos. “Em dois anos muitas coisas acontecem e precisamos estar preparados”, diz. Mesmo depois de tempos difíceis com o advento da pandemia, o profissional percebe uma reorganização que deixou o setor em uma linha de estabilidade com o crescimento natural do mercado. “Se a gente não tirar algumas coisas boas dessas crises, não vamos evoluir nunca”, fala. 

Condições que podem alavancar o setor da construção civil 

A redução nas taxas de juros, como a Selic – em agosto de 2020 definida em 2% ao ano, menor valor desde 1997, proporciona a inserção de muitas famílias na economia, assim como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) impulsiona o mercado se usado dentro do propósito inicial. De acordo com Ieda Vasconcelos, o país precisa repensar sobre o uso correto desse fundo. “Serve para ajudar na crise? Temos que repensar muito pois ele não é um complemento de renda”, defende.  

O fundo também foi defendido por Jafet. “Temos que preservar os recursos do FGTS para manter o Minha Casa Minha Vida e sua integridade. Existem uma série de ataques a ele que não devem acontecer”, conta. Estabilidade nos juros é outro ponto que o Brasil deve focar. “Precisamos lutar para que os juros permaneçam baixos e sensibilizar o setor público daquilo que está sendo bem feito para alavancar o setor da construção”, entende Mauro Dottori.  

Quando questionados sobre qual o segmento da construção civil possui mais chances de crescimento no cenário atual, todos os convidados são categóricos ao defender que o residencial tem mais oportunidades com as atuais reduções das taxas de juros. 

Outro fator que ajudaria o setor da construção é o nível de produtividade das empresas. Um estudo sobre o trabalhador brasileiro aponta que desenvolvemos apenas 20% da quantidade de trabalho de países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos, por exemplo. Os economistas dizem que isso tem a ver com o acesso a financiamentos, decisões das empresas e ambientes externos de trabalho. Ambas defendem que a industrialização precisa de um movimento para ser impulsionada no Brasil.  

O BIM (Modelagem de Informação da Construção) é uma inovação que temos como grandiosa no setor pois gera produtividade. “Temos empresas que durante a pandemia conseguiram fazer atendimentos 100% on-line, inclusive na assinatura de contratos”, conta Ieda, que também salienta a importância dos avanços com sustentabilidade nas empresas. 

Não haverá evolução nos setores imobiliários e de construção civil se não olharmos o Brasil como um todo e focarmos na economia. Dottori entende que os empresários precisam fazer o trabalho interno de suas organizações, melhorando as empresas e fazendo pressão no governo para reduzir encargos trabalhistas. 

ator Gabriela Souza

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