Inovações e sistemas prediais no Brasil

Gabriela Souza / 30 de dezembro de 2020

Resumo do texto:

  • A necessidade de sistemas prediais serem dinâmicos e simplificados com modulação e racionalização;
  • Muitos erros em sistemas prediais são causados por erros em vícios técnicos;
  • O processo de condicionamento é pouco divulgado na faculdade, sendo “um passo atrás da educação”;
  • As equipes de engenharia devem prospectar novos equipamentos que contribuam no canteiro de obra com redução de custos visando a sustentabilidade.

É sabido que os sistemas prediais dependem de um projeto que valorize o usuário final. Ao menos é o que se espera. Essa expectativa é igual durante a execução, condicionamento e as operações nas edificações, tendo em vista que são partes constantemente visitadas durante a vida útil da construção. 

Para dar uma aula acerca do tema, o canal do enredes no YouTube promoveu um webinar sobre projeto, execução, comissionamento e operação de sistemas prediais de edificações. Em sua 21ª edição, o webinar, moderado pelo CEO do CTE, Roberto de Souza, recebeu Eduardo Yamada – Gerente Técnico de Sistemas Prediais do CTE, Eduardo Rossetti – Diretor de Negócios da Engeform, Nelson Faversani – Diretor de Design and Construction da Autonomy e Salim Lamha Net – Sócio-fundador da MHA Engenharia.  

Sistemas prediais são grandes grupos inseridos em projetos técnicos, gerando a necessidade de estudarmos todo o sistema, desde sua concepção, operação do usuário e a manutenção. Ele se subdivide em água (projetos hidráulicos, água potável, não potável e esgoto), energia (elétrica ou a gás), comunicação (rede de TV, internet, voz e imagem) e segurança (proteção contra incêndio, vazamento de gases, etc).  

Para o convidado Salim L., questões fundamentais no enfoque dos projetos estão em fazer edifícios que sejam dinâmicos e simplificados. “A flexibilidade física e tecnológica deve acompanhar a capacidade de expansão dos prédios com a modulação e a racionalização – todas as vezes que pudermos simplificar os sistemas, vamos trabalhar ainda melhor”, defende.  

Boas práticas e recomendações para integração

A parte de instalações de água e esgoto são as grandes responsáveis pela disseminação de patologias em sistemas prediais. Segundo dados apresentados pelo Gerente Técnico de Sistemas Prediais do CTE, Eduardo Y., muitas falhas provém de vícios técnicos. “Estudos mostram que de 36% a 49% dos erros são originados ainda na Fase de Projetos”, diz.  

O convidado Eduardo R., apresentou as vantagens de boas práticas em sistemas prediais no projeto, execução, comissionamento e na operação. Para o profissional, tudo deve ser interligado. “Uma execução é eficiente quando compatibilizada em BIM, quando há análise crítica e implantação de inovações ou alternativas de mercado”, explica. O profissional defende que o acompanhamento técnico da obra e o suporte de consultorias especializadas também são vantajosas. “O comissionamento deve existir do início da execução à entrega da obra assim como a operação deve ser totalmente assistida”, justifica. 

Outro ponto positivo levantado pelos convidados está na sustentabilidade nas edificações. Nelson F., defende a necessidade de pensarmos nas operações enquanto usuários. “Um edifício leva alguns meses para ser projetado, anos para ser construído e dura décadas gerando muito resíduo. Tudo pode ser completamente desperdiçado se não pensarmos em operações para os sistemas prediais”, expõe. 

Para que todas as áreas do sistema predial estejam integradas é necessária a interação dos projetistas e a participação de uma equipe multidisciplinar em sua essência. Segundo Eduardo Y., os maiores cases de sucesso são justamente aqueles onde o cliente está envolvido, sabe o que quer e tem as definições do projeto. “Quando uma empresa acompanha do início ao fim facilita muito todo o projeto e evita falhas de comunicação de ponta a ponta”, explica.

A cadeia produtiva e sistemas prediais com qualidade

O convidado Salim L., garante que ainda existem diversos buracos na cadeia produtiva: uma das questões está no treinamento contínuo. “Até que ponto teremos essa cadeia preparada para execução do BIM? O treinamento é fundamental”, diz. Para o profissional, isso  depende do mercado e do cliente.  

Questões de educação também foram levantadas. Eduardo Y., entende que o processo de condicionamento é pouco divulgado na faculdade, sendo “um passo atrás da educação”. “O desconhecimento por parte dos instaladores e o pessoal ainda confunde bastante. Falta bagagem para capacitarmos também”, fala. O profissional aponta que ainda usamos poucas ferramentas de modelagem energética.  

Mesmo com a evolução e grandes transformações, há problemas. Ao mesmo tempo que a tecnologia chega rápido – depois de anos na engenharia civil – estamos pouco prontos. “Quem se preparou antes é quem está mais forte hoje”, explana Eduardo R. O convidado lembra uma situação ainda preocupante na cadeia da construção e presente atualmente: infelizmente contrata-se por preço e não por técnica.

Sustentabilidade e redução de custos operacionais

É preciso ter em mente que projetos mudam e demandam agilidade. Salim L., entende como premissa não acomodarmos com o que já existe – é preciso brigar por flexibilidades. Eduardo Y., acredita em processos integrados desde o início, com engenharia de valor desde o nascimento. “Outro ponto está na modelagem energética no início do projeto – isso traz muita coisa boa na operação”, fala. É melhor errar no começo e não no final.  

A própria obra também pode contribuir com essas soluções. Para Eduardo R., as equipes de engenharia devem prospectar novos equipamentos que contribuam no canteiro de obra com redução de custos visando a sustentabilidade. “Um edifício é sempre um grande gerador de resíduos por isso que devemos pensar em reduções de modo circular”, explica.  

Hoje é notável que os clientes estão com responsabilidades maiores com a sociedade. “A certificação LEED não é unicamente o mais importante – prédios precisam ser atrativos e positivos também para a comunidade”, conta Nelson F. 

Recomendações de boas práticas em edificações residenciais

O sonho de Salim L., está em conseguir levar premissas de operacionalidade e redução de custos para edificações residenciais. “Ainda não consigo enxergar isso hoje. Se eu pudesse teria instalações inspecionadas também em residencial”, relata.  

Na opinião do Gerente Técnico de Sistemas Prediais do CTE, Eduardo Y., o mercado é canibal. “Só empreendedores e incorporadores que percebem benefícios nas edificações residenciais. Não existe condicionamento principalmente na fase de projeto, além de ser difícil entrar nesse mercado”, conta. O convidado também lembra que muitos síndicos não possuem condições para realizar algumas tarefas.  

As empresas precisam se adaptar e essa realidade não vai mudar. “É bom industrializar o máximo possível. Hoje já existem soluções no mercado que facilitam e barateiam o escopo. É possível trabalhar no custo, mas não sem uma escala de industrialização”, diz Eduardo R. Todos os convidados entendem a necessidade de manuais serem mais acessíveis e eletrônicos – onde os usuários entendam.  

Todos os convidados chegaram em um consenso sobre as principais inovações para os processos prediais no Brasil. Experiência personalizada, inteligência artificial e automação. “Temos que usar a tecnologia de forma inteligente para o usuário e não para o prédio”, defende Nelson F. Sem dúvida é importante a construção civil e os processos prediais praticarem inovações e capacitação contínua com mudança de mindset.

ator Gabriela Souza

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