Impressão 3D no futuro da construção

Gabriela Souza / 22 de novembro de 2018

RCD aborda o desenvolvimento e as possibilidades de uso da tecnologia

A última Estação de Trabalho da Rede Construção Digital, realizada no dia 13 de novembro, reuniu especialistas e profissionais do setor para debater a utilização da impressão 3D. Na ocasião, também foram apresentados os resultados da pesquisa sobre o grau de digitalização do setor, realizada pela Quorum Brasil, além de dados dos mapeamentos das startups brasileiras e do Vale do Silício. 

Durante o evento, os participantes puderam conhecer o benchmarking realizado pela InterCement na área de impressão 3D. “Mapeamos internamente o que poderia ser disruptivo para o nosso negócio e percebemos que a Impressão 3D se apresenta como uma alternativa, com o qual toda a cadeia da construção civil necessitaria se mover”, explica a head de Inovação Lorena Viana Ferreira. 

Neste sentido, a empresa mantém contato com instituições internacionais, empresas e startups. Entre elas, a Universidade de Tecnologia Eindhoven, na Holanda, que tem se especializado no cálculo de estruturas para esse novo modelo de construção. E também o Centro de Pesquisa Multidisciplinar do Instituto Federal de Tecnologia ETH Zurich (DFab), na Suíça, que tem testado diversas formas de impressão 3D, com investimentos em torno de 180 milhões de euros até o momento.

“Mapeamos internamente o que poderia ser disruptivo para o nosso negócio e percebemos que a Impressão 3D se apresenta como uma alternativa, com o qual toda a cadeia da construção civil necessitaria se mover.”Lorena Viana Ferreira, Head de Inovação da InterCement

A partir dessa pesquisa, a disrupção se apresenta em um cenário de médio e longo prazo. Isso porque ainda há uma série de desafios que envolvem a redução do custo e tempo de lançamento, tecnologia para bico de extrusão, normalização, formulação, bombeamento do material e elementos estruturais. “Com base nos estudos apresentados no encontro observamos que existe um caminho para aplicação comercial da impressão 3D em escala competitiva. Percebemos que a tecnologia está em um estágio inicial de pesquisa e depende de investimentos muito altos”, compartilha. 

Sobre as possibilidades de uso, foram verificados nichos para arquitetura, objetos com forma diferenciada e materiais funcionais. Estudos iniciais indicam que por mais que se otimize a formulação para a impressão 3D, a solução poderá apresentar maior impacto ambiental que a convencional, porém se a tecnologia possibilitar estruturas de formas flexíveis, bem como materiais funcionais, esse impacto poderá ser reduzido. 

Na InterCement, o tema vem sendo liderado pela Eng. Mariana Menezes, da Área de Pesquisa e Desenvolvimento. 

Uma das startups brasileiras atuantes na área de impressão de 3D é a InovaHouse 3D, que surgiu em 2015, dentro da Universidade de Brasília, e hoje tem como principal missão fomentar o ecossistema nacional — composto pela indústria de máquinas e de cimento, governo e academia para absorção da impressão 3D. “Entendemos que essa tecnologia já se firmou como tendência no futuro da construção, não é mais algo questionável. É claro que é difícil saber quais serão os próximos passos, mas ela vai chegar ao mercado brasileiro”, ressalta a Founder e CEO, Juliana Martinelli. 

Em sua visão, a impressão 3D virá para mudar o projeto e promover a garantia de qualidade no setor da construção. “Todo o projeto precisará estar digitalizado para ser integrado com a impressão 3D. A primeira etapa será ter o BIM consolidado dentro da empresa”, conta. A partir daí, por meio de um software específico, será possível fazer uma seleção do que será ou não impresso, atuando com construções híbridas. O programa vai informar o tempo e o material necessário para a impressão e o projeto será impresso exatamente como está no computador. “Não tem interpretação de pedreiro, mestre de obras, etc.”, explica. 

Segundo ela, no exterior, as ações têm sido pontuais. A cidade de Dubai, por exemplo, está abrindo um mercado de investimentos para startups do mundo inteiro nesta área. A meta é chegar em 2025 com 25% das construções feitas com impressão 3D. A China construiu vários modelos, mas ainda não promoveu a comercialização. Já a França se destacou por ter a primeira família a habitar uma casa usando a impressão 3D. “Não tem nada de concreto no mundo ainda. Essa é uma oportunidade para o Brasil se posicionar como pioneiro dessa tecnologia. Surfar essa onda, já que é um dos grandes utilizadores de cimento para construção”, reforça.

“Essa é uma oportunidade para o Brasil se posicionar como pioneiro dessa tecnologia. Surfar essa onda, já que é um dos grandes utilizadores de cimento para construção.”Juliana Martinelli, Founder e CEO da InovaHouse 3D

Hoje, o cimento tem sido a principal matéria-prima da impressão 3D, com a mistura de aditivos. Mas a tecnologia também pode comportar outros tipos de materiais como madeira ou polímeros, por exemplo. 

A InovaHouse 3D já desenvolveu a tecnologia de impressão 3D no Brasil, utilizando máquinas e matéria-prima de fabricantes nacionais. Em 2019, pretende construir a primeira edificação em parceria com a Caixa Econômica Federal, que deve promover a regulamentação da tecnologia, possibilitando a sua utilização em programas sociais como o Minha Casa Minha Vida. 

Atualmente, a empresa tem apoiado linhas de pesquisa e atuado com parceiros no desenvolvimento de novos materiais com desempenhos específicos para a construção civil, na evolução da precisão, autonomia e inteligência das máquinas e em um software de operação, que deve ser interligado aos programas da Autodesk.

Pesquisas

Durante a Estação de Trabalho o CEO da Quorum Brasil, Claudio Silveira, comentou em primeira mão os resultados da pesquisa sobre o grau de digitalização do setor, realizada a partir de entrevistas com 500 empresas, entre incorporadoras, construtoras, fabricantes e projetistas, nos meses de setembro e outubro.

Na avaliação do presidente do CTE/EnRedes e idealizador da Rede Construção Digital, Roberto de Souza, o estudo confirma a hipótese inicial de que o setor está atrasado. “Vivenciamos essa experiência nas 32 empresas da Rede. Hoje, estamos pensando em como podemos contribuir para aumentar o comprometimento das empresas, expandir em termos de movimento e deixar um legado setorial”, avalia. 

Também foram apresentados os resultados do mapeamento das 255 startups do setor de construção no Vale do Silício, realizado em parceria com a StartSe, e do levantamento das 344 startups brasileiras. 

A pesquisa e os mapeamentos serão disponibilizados aos membros RCD até o final deste mês.

Dinâmica

Após as exposições, os participantes da RCD discutiram e votaram em projetos prioritários relacionados a impressão 3D, a partir de uma dinâmica de grupos. Os projetos mais votados foram peças de infraestrutura com alto custo de transporte para locais de difícil acesso, impressão de componentes em obra (bancadas, pisos drenantes, etc.) e impressão de peças de manutenção de produtos fora de linha. Um grupo formado pelas empresas InterCement, França Associados, Inovahouse 3D, Enge custos, MRV e DEF irá dar andamento aos projetos.

 

Veja o vídeo desta estação de trabalho da RCD

ator Gabriela Souza

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