Gestão de qualidade e governança na construção civil

Gabriela Souza / 4 de setembro de 2020


Resumo do texto:

  • Governança é uma estância que cria uma terceira parte para verificar e dar transparência na questão da qualidade e desempenho de todas as partes envoltas na construção;
  • A produtividade não está voltada apenas ao canteiro de obras e sim de ponta a ponta; 
  • A organização do trabalho, desafios e oportunidades, são observadas com o desenvolvimento de novas tecnologias e industrialização de processos;
  • Ao se tratar de obra é necessário planejar o que será feito com controle de qualidade – principalmente por conta de certificações onde se faz necessário monitorar a gestão da qualidade, do meio ambiente e da segurança ocupacional.

Além dos problemas de logística, financeiros e tantos outros que podem acontecer em um canteiro de obras, algumas boas estratégias são bem-vindas para auxiliar processos, evitar adversidades e facilitar relações. Um bom exemplo está na gestão de qualidade e governança eficientes, onde o desempenho é levado em consideração de uma ponta à outra.  

Pensando nisso o canal do enredes no YouTube promoveu o 22º webinar com o tema “Governança e Gestão da Qualidade das Obras em um Cenário de Crescimento do Mercado da Construção”. Os convidados foram Samuel Gosch – Gerente de Inovação e Processos da EZTEC, Sérgio Fernando Domingues – Diretor Técnico da Tarjab, Maurício Hino – Diretor da Unidade Qualidade & Desempenho do CTE e Juliana Grigonis – Gerente de Qualidade e Desenvolvimento Tecnológico da Cyrela. O bate-papo foi moderado pelo CEO do CTE e enredes, Roberto de Souza – o Bob.  

Segundo palavras do anfitrião, governança é uma estância que cria uma terceira parte para verificar e dar transparência na questão da qualidade e desempenho de todas as partes envoltas na construção. “Ela pode envolver uma terceira parte de inspeção nas obras, até pensando em alguém de fora fazendo uma gestão da qualidade para verificar alguns processos internos”, explicou Bob. 

A atualização na organização do trabalho

Hoje temos uma nova ordenação de tarefas em diversas construtoras, incorporadoras e empresas. De acordo com Sérgio F. Domingues, a Tarjab modificou algumas estruturas para trabalhar. “Caminhamos para uma organização em pentágono (em cinco etapas), de modo inovador, respeitando prazos, custos, desempenho, sustentabilidade e produtividade”, diz. O Diretor Técnico lembra que a produtividade não está voltada apenas ao canteiro de obras e sim de ponta a ponta.  

Hoje a sigla ESG (Environmental Social Governance – três fatores principais na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em um negócio) é mais presente em projetos que levam a assinatura da Tarjab e o convidado lembra da importância de uma modelagem de informação (BIM) bem aplicada. “Com isso podemos construir o nosso empreendimento antes de ir ao canteiro. A produtividade e a sustentabilidade estão inseridas já no projeto e não apenas no final”, expressa. Domingues deixou um pensamento interessante: “Para aumentarmos a nossa produtividade com desempenho e sustentabilidade, temos que parar de construir e começar a montar”.  

Para o Gerente de Inovação e Processos da Eztec, Samuel G., a organização do trabalho, desafios e oportunidades, são observadas com o desenvolvimento de novas tecnologias e industrialização de processos. “Os edifícios estão mais altos, as áreas de lazer são nas coberturas e alguns prédios possuem uso misto (escritórios e moradias)”, exemplifica. 

O CTE (Centro de Tecnologias e Edificações) está dividido em diversas unidades de negócio. Conforme Maurício H. explica, eles encaram a governança e a gestão de qualidade nas obras com foco na empresa e no empreendimento. “Fazemos isso no CTE através de consultorias para empresas com todas as certificações, meio ambiente, segurança no trabalho, dentre outras. Para cada empreendimento trabalhamos desde o projeto olhando tecnicamente e definindo perfil de desempenho da edificação”, esclarece.  

O Diretor da Unidade Qualidade & Desempenho do CTE diz que a ideia é saber qual a qualidade do produto que entrega-se ao cliente.  

Para o profissional, ao se tratar de obra é necessário planejar o que será feito com controle de qualidade – principalmente por conta de certificações onde se faz necessário monitorar a gestão da qualidade, do meio ambiente e da segurança ocupacional, por exemplo. “Na prática buscamos informações de todo o andamento desde o projeto, nível de atendimento, prazos, custos, qualidade, segurança e meio ambiente. Tudo isso facilita a governança”, defende. Ter esse painel de dados serve para o CTE analisar e tomar decisões de correções e melhorias.

O caminho para melhorar a cadeia produtiva

Podemos fazer uma analogia com a questão da norma do desempenho. Sérgio F. Domingues explica que uma das coisas que ela (norma de desempenho) veio clarificar e definir, era o que cada um deve fazer e quais suas responsabilidades dentro da cadeia produtiva. “O primeiro caminho está na conscientização das responsabilidades dentro dessa cadeia, depois temos que pensar de forma holística e integrada ao BIM em nossa industrialização com os pré-fabricados”, explica. Para o convidado é preciso existir essa cadeia desde a concepção do projeto contemplando também os sistemas construtivos. “O terceiro caminho está na questão da construção sustentável. Estamos no nosso planeta e se não cuidarmos dele, uma hora vai dar problema – desempenho está atrelado a uma questão de necessidade e comportamento humano”, esclarece. 

De acordo com Juliana Grigonis, da Cyrela, uma das situações perceptíveis é que a cadeia está passando por dificuldades. “Aumentamos a demanda e eles precisam aumentar equipes e pensar em uma capacitação sistêmica. Usamos muitos fornecedores e recebemos produtos, não sistemas”, diz. A Gerente de Qualidade e Desenvolvimento Tecnológico explica que ainda é preciso trabalhar parcerias – a aproximação. “Precisamos perceber os sistemas e os produtos. Como que a gente desenvolve o que efetivamente precisamos e queremos? Isso que é necessário trabalhar em toda a cadeia”, questiona. Para a convidada também é importante resolver gargalos da complexidade com novos materiais. 

Para Samuel G., melhorar a cadeia produtiva é possível ao voltar os olhos à linha de disponibilidade de sistemas construtivos mais complexos – e não apenas produtos. “Provavelmente ter esse cardápio de sistemas à disposição geraria concorrência. Outro ponto que percebemos por algumas indústrias é que ainda existe dificuldade de identificação dos próprios produtos – isso reduziria riscos de desempenho”, diz. O mesmo entende Maurício H., que além de sistemas mais completos, defende um que seja lógico e industrializado, funcionando como uma fábrica. “Ainda terá muita ‘mão na massa’ envolvida, pois não é tão fácil mudar assim. É preciso uma integração do pessoal de mão de obra e do fabricante”, assegura. O Gerente diz que a área da qualidade se acostumou a cobrar requisitos de obra e isso desvirtua totalmente do objetivo de levar desempenho ao cliente – que acaba ficando em segundo plano. “O foco real deve estar na qualidade da obra e não somente nas auditorias de obras”, analisa.

Qualidade e governança no crescimento do mercado da construção

Pensando na linha de plataformas digitais, é imprescindível experimentar mais parcerias com empresas de soluções novas – as startups. Isso é o que pensa Samuel Gosch. Ele recomenda cuidado com integrações em sistemas de informação e aconselha juntar dados e estruturá-los para auxiliar nas tomadas de decisão. 

Sérgio F. Domingues aconselha o investimento na construção virtual. “Precisamos fazer mais simulações antes de executar um canteiro de obras”. Ele também defende a tradução de processos construtivos para a concepção do produto. “Cada empresa tem o seu processo e como fazer com que o projetista faça tudo de acordo com os meus processos? É por isso que temos que informar com bons indicadores”, finaliza.  

Juliana Grigonis defende a comunicação. “Às vezes falhamos ao comunicar e não fazemos isso chegar na mão de obra final, é preciso fazer as informações chegarem na ponta usando metodologias ágeis durante a gestão”, conclui. 

Todas as empresas precisam de planejamento e estruturas melhores para atender a esse volume de obras que caminha junto ao crescimento do mercado. Cabe aos profissionais da construção civil atualizarem a cadeia produtiva com auxílio da industrialização e como consequência disso ter uma excelente gestão e governança.  

Acompanhe o webinar tema deste texto:

ator Gabriela Souza

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